ARMANDO CARDOSO – 50 anos na Fotografia ( conclusão )
por
José Soudo
A lista é infindável, mas a estes, ainda me parece justo juntar os que na
mesma época, nos idos de 1936’s a 1939’s, vivenciaram e testemunharam
as agruras vivenciadas pelos nossos vizinhos espanhóis, numa guerra civil
que deixou marcas até hoje por sarar e, de onde sobressaíram nomes
incontornáveis da Fotografia, como o do húngaro Robert Capa (1913/1954),
ou o da judia alemã, Gerda Taro (1910/1937), ou do judeu polaco David
Seymour (1911/1956), que nunca se chamaram assim, pois Capa era Endre
Ernő Friedmann, Seymour era Dawid Szymin e Taro era Gerta Pohorylle, mas
será assim, com esses nomes inventados, que os recordaremos para sempre
e obviamente também pelas fotografias de militância social que nos fizeram
chegar, porque estando no terreno, viram e sentiram o que é estar do lado e
ao lado dos mais fracos e dos que sofrem com a guerra e também dos que
lutam contra a opressão.
Nesse mesmo terreno, também se caldeou um dos principais nomes dos
fundadores nos idos de 50’s da mítica Magnum Photos, Inc..
Henri Cartier-Bresson (1908/2004) também andou por terras de Espanha
e produziu filmes de apoio à causa republicana, tais como, “Vitória da vida”
(1937) e “A Espanha viverá” (1938).
A outra vertente que me apetece ressalvar é a dos experimentalismos, tão
cara aos construtivistas soviéticos, que afirmavam sobre …o dever de se
experimentar sempre…, partilhado por Aleksandr Mikhailovich Rodchenko
(1891/1956) e por outros companheiros e militantes que puseram
a modernidade da fotografia, ao serviço dos trabalhadores e da utopia da
revolução bolchevique.
Nesta análise singela dos trabalhos do Armando Cardoso, destaco o grande
interesse que manifesta pela fotografia sem meio óptico ou esténopeica, ou
dito à laia de brincadeira, mas ao mesmo tempo de um modo muito à séria,
fotografia em cuja produção, a luz entra na câmara, por um simples buraco
de agulha.
A imagem que me foi dada a ver sob essa construção, trouxe-me memórias
em que senti e pressenti, embora com outras abordagens e meios de captura
diferentes, os sobressaltos da jovem Francesca Woodman (1958/1981), que
nos abandonou muito cedo e muito sofrida nos idos de 1980’s.
Só consigo acrescentar, que imagem subtil, estranha, misteriosa, densa
e ao mesmo tempo tão despretensiosa e tão carregada de energia, como
costumam ser as fotografias sem meio ópticco e por isso estenopeicas.
Só por estas duas tipologias sobre as quais deixo aqui o meu manifesto
e porque não me devo alongar mais, quero dizer ao Armando, obrigado por
nos dares a ver 50 anos de vida...